Vou começar esse post com uma mensagem que recebi de um dos meus pacientes no início da pandemia, pois acho que resume a ideia que irei expor!
“Dra, bom dia! Ontem assisti ao fantástico e não consegui dormir! Na verdade, estou dormindo mal todas as noites. Toda hora falam que somos do grupo de risco e a sensação que tenho é que não sei se amanhã estarei vivo. Tenho muito medo. Eu acho que não tenho nenhuma doença, mas eu sou idoso. Eu meço minha pressão todos os dias, no máximo dá 13×8, tá bom né? Tenho medo de ser hipertenso, porque aí terei mais risco ainda. Estou me sentindo muito sozinho, meus filhos não estão vindo me visitar porque estão com medo de me passar doença. E não tenho coragem de sair de casa porque ficam falando que velho é teimoso. É desesperador!”
O que sentimos ao ler isso? Empatia? Compaixão? Acho que tudo isso!
Na minha rotina como geriatra, o que tenho observado desde o início da pandemia no Brasil é um sentimento generalizado de medo, de solidão e de descriminação entre os idosos.
Não é fácil ouvir todos os dias no noticiário que você faz parte do grupo de risco de uma doença que tem o potencial de se alastrar tão rapidamente e infectar quase toda a população e que, portanto, é muito alta a sua chance de morrer! E, pior, ouvir as pessoas dizerem: Não preciso me isolar, estou tranquilo, porque só os velhos morrem!
Com o avançar da pandemia, observamos que os jovens e saudáveis também morrem! E ai, todos foram obrigados a se isolarem! Mas nem todos seguem o isolamento sempre, e sabemos o quanto é difícil! Esses dias, vi as ruas cheias de pessoas, mas quando o “velho” sai na rua: idoso é teimoso!
A solidão já era um problema enfrentado pelos idosos antes da pandemia por diversos motivos: viuvez, filhos que saem de casa, parentes e amigos que já faleceram. Mas essa situação acabou agravando-se nesse período, pois o grupo de risco precisa ficar mais isolado do que todo mundo!
E, outro problema muito enfrentado é o preconceito! Acho que todo mundo que está lendo esse artigo já viu alguma foto criticando o idoso visto na rua ou algum meme fazendo piada dos idosos que saíram na rua: é o caminhão cata véio, é a vaga de estacionamento para teimoso (ao invés de idoso), gaiola para idoso teimoso!
Mas será que já paramos para refletir o quanto isso pode magoá-los? O quanto eles estão se sentindo marginalizados, abandonados e com medo?
Te convido para refletir sobre isso! Vamos tentar dar mais atenção aos idosos; fazer uma ligação de vídeo e, olhando nos olhos, perguntar como eles estão, o que eles estão sentindo, quais são as suas angústias, o que podemos fazer para ajudá-los (mesmo que fisicamente distantes)?
Reforçar a necessidade de isolamento sem criar pânico ou gerar preconceito é possível! A nossa maneira de falar e de se expressar faz toda a diferença!
