A vacinação consiste em uma das medidas para promoção de saúde do idoso e é uma forma eficaz de prevenir diversas doenças graves.
Falaremos sobre as principais dúvidas que surgem no consultório; como as indicações de cada vacina, as contraindicações, o que elas previnem, a partir de que idade devem ser tomadas, se é necessário reforço e com que frequência, e a sua importância.
Não percam de ler esse post!! Para maiores detalhes, visitem a página do nosso Blog e leiam a matéria na íntegra!!
1.Vacinação contra Influenza:
♣Quem deve tomar a vacina?
Todos os indivíduos acima de 6 meses de idade que não apresentarem contraindicação.
Os idosos fazem parte do grupo prioritário!
“Mais de 90% das mortes relacionadas à Influenza ocorrem nos indivíduos acima de 60 anos. Os casos também tendem a ser mais graves e causar maior comprometimento.” ¹
♣Após quantos dias da vacinação estou protegido?
Em indivíduos saudáveis, a proteção da vacina se dá entre 2 e 3 semanas após a vacinação, quando os anticorpos começam a surgir; o pico máximo de anticorpos ocorre após 4 a 6 semanas e a duração da proteção vai de 6 a 12 meses.
Em idosos, os níveis de anticorpos podem ser menores e, portanto, a vacina pode ser menos eficaz, principalmente nos idosos mais fragilizados.²
♣Devo mesmo tomar a vacina da Influenza todo ano?
Sim! O vírus da gripe apresenta uma alta taxa de mutações, portanto alguns dos vírus responsáveis pelo surto de gripe de um determinado ano serão diferentes dos vírus do ano seguinte. As vacinas de cada ano são diferentes!
Além disso, a proteção conferida pela vacina é de, aproximadamente, 1 ano.
♣Qual o efeito da vacina? O que ela protege?
O objetivo da vacina é reduzir a chance de “pegar gripe”. Mas, a vacina também reduz o risco de desenvolver formas graves da doença e reduz o risco de mortalidade decorrente da gripe. Ou seja, se você tomou a vacina e pegou gripe mesmo assim, é provável que você desenvolva um quadro de gripe mais leve, com menos complicações.
E, mais importante, as doses repetidas anualmente são mais protetoras. Para exemplificar: Um estudo populacional mostrou que a primeira dose da vacina foi associada a uma redução do risco de morte de 10%, já a revacinação reduziu a mortalidade em 24% e essas taxas foram aumentando nas revacinações anuais subsequentes.ᵌ
♣Tomei a vacina e “peguei gripe” logo em seguida. Foi culpa da vacina?
Não. A vacina da gripe é feita de “vírus inativados”, por isso ela não causa a doença.
O que pode ter acontecido: a vacina é dada em época de surto da gripe, portanto, num período em que os vírus estão circulando mais ativamente. Você pegou gripe porque se infectou com um desses vírus circulantes e não em decorrência da vacina.
♣Quais os efeitos colaterais da vacina da gripe?
– Manifestações locais são mais comuns: dor e vermelhidão no local da injeção, geralmente resolvidas em 48 horas.
– Manifestações mais gerais também podem ocorrer, como febre, mal-estar, dor no corpo que podem durar 2 dias (E não quer dizer que você pegou gripe, leia o tópico acima!!).
– Reações graves são muito raras, como alergia grave (anafilaxia) e Síndrome de Guillain-Barré.
♣Quais os tipos de vacina contra influenza disponíveis no Brasil?
Na rede privada existe a vacina quadrivalente, que possui 4 subtipos do vírus Influenza (dois subtipos de Influenza A e dois subtipos B). Já a vacina distribuída na rede pública é a vacina trivalente, que possui os três subtipos de Influenza (dois subtipos de Influenza A e um vírus da Influenza B).4
♣Quais as contraindicações para a vacina da gripe?²
– em caso de doenças febris agudas, moderadas ou graves, recomenda-se adiar a vacinação até a resolução do quadro;
– se o paciente tem história de alergia a ovo:
* se a alergia é leve (apenas urticária) > pode-se administrar a vacina influenza;
* se a alergia é grave (anafilaxia: angioedema, desconforto respiratório ou vômitos repetidos): administrar a vacina em ambiente adequado (atendimento de urgência e emergência) para tratar manifestações alérgicas graves. A vacinação deve ser supervisionada por um profissional de saúde que seja capaz de reconhecer e atender as condições alérgicas graves.
– História de anafilaxia em doses anteriores a componentes da vacina, recomenda-se realizar avaliação médica criteriosa sobre benefício e risco da vacina antes da administração de uma nova dose e se indicada realizar o procedimento sob observação.
2.Vacina anti-Pneumocócica
♣Essa vacina protege contra qual doença?
A vacina protege contra infecções causadas pela bactéria “Streptococcus pneumoniae “, também conhecida como Pnemococo.
O Pneumococo é umas das causas mais importantes de Pneumonia no mundo. É também causadora de meningite, otite média e outras doenças. As infecções pelo Pneumococo têm um alto potencial de serem graves e levarem à morte. 5
Existem diversos subtipos de Pneumococo, a vacina protege contra os subtipos mais comuns por estimular a produção de anticorpos pelo organismo. A vacina reduz o número de pessoas que desenvolvem pneumonia e tornam a doença menos severa naqueles que acabam desenvolvendo-a.
♣Quais as vacinas disponíveis?
Existem dois tipos de vacinas para os idosos.
* A vacina polissacarídea 23 valente (PPSV23): protege contra infecções causadas por qualquer dos 23 sorotipos do pneumococo incluídos na vacina, que são responsáveis por cerca de 80 a 90% das doenças pneumocócicas graves. Está disponível na rede pública e privada.
* A vacina conjugada 13 valente (PCV13): protege contra infecções causadas por qualquer dos 13 sorotipos do pneumococo incluídos na vacina. Está disponível na rede privada.
♣Quem deve tomar a vacina e quando?
♣A PPSV23 está indicada para os idosos com 65 anos ou mais e para pacientes acima dos 18 anos que fumam ou que são portadores de doenças crônicas (tais como: doenças cardíacas e pulmonares, diabetes, doenças do fígado e alcóolatras).
Pode ser dado um reforço da vacina após 5 a 10 anos a depender do risco do paciente.
♣A vacina PCV13 também está indicada para os idosos. Não é necessária dose de reforço.
Idealmente, os idosos devem receber a vacina PCV13 primeiro e, um ano após, receber a PPSV23 (esse intervalo pode ser menor).
♣Quais são as contraindicações?
– Pacientes com história de reações alérgicas graves (exemplo: anafilaxia) a algum componente da vacina.
3.Vacina contra o Herpes Zóster
♣Essa vacina protege contra qual doença? E qual a importância dela para o idoso?
A vacina protege contra a doença Herpes Zóster, também conhecida como cobreiro. É causada pelo mesmo vírus da catapora, que fica adormecido nos seus nervos e, quando a sua imunidade cai, ele pode ser reativado, causando a doença.
É estimado que 20 a 30% dos indivíduos vão desenvolver Herpes Zóster ao longo da vida, e o risco chega a ser 8 a 10 vezes maior no idoso. 8
O Herpes Zóster é caracterizado por bolhas que surgem em um lado do corpo, formando um tipo de faixa, causa muita dor e ardência. Pode levar a quadros mais graves, com comprometimento da visão quando acomete a região dos olhos e pode levar a um quadro de dor crônica no local (a neuralgia pós-herpética).
♣Quem deve tomar a vacina e quando?
A vacina está recomentada para todos os indivíduos com 50 anos ou mais que não apresentarem contraindicações.
Ela reduz o risco de desenvolver a doença e diminui a chance do paciente ter a neuralgia pós-herpética.
Existem duas vacinas, cada uma com um esquema diferente.
* A Zostavax é uma vacina de vírus “enfraquecido” e, portanto, pode causar a doença em pacientes com imunidade muito baixa, por isso está contraindicada em algumas situações. Ela é administrada em dose única.
* A Shingrix é uma vacina composta por pedaços do vírus, portanto, não é capaz de causar a doença. É uma vacina mais eficaz que a Zostavax, entretanto ainda não está disponível no Brasil. Ela é administrada em duas doses, a segunda dose é dada 2 a 6 meses após a primeira. 9
♣Quem já teve Hérpes Zoster pode tomar a vacina?
Sim! Pacientes que já tiveram Herpes Zóster podem tomar a vacina, idealmente 1 ano após o episódio.
Não receber a vacina na vigência da doença e não usá-la como tratamento.
4.Dupla do adulto
A vacina dT protege contra difteria e tétano e está disponível na rede pública.
Existe também a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa), que confere proteção também contra Coqueluxe e pode ser administrada nos idosos; ela está disponível apenas na rede privada. Quando disponível, pode ser administrada uma vez (no lugar da dT no início do esquema). 10
Os idosos que nunca foram vacinados, devem receber 3 doses da vacina (1º reforço com 2 meses e 2º reforço com 4 a 8 meses) e após, um reforço a cada 10 anos.
Para aqueles que já vacinados, apenas o reforço a cada 10 anos.
5.Hepatite B
É importante ressaltar que atualmente os idosos têm mantido uma vida sexual ativa mais comumente, e esse fato nem sempre tem sido acompanhado do uso do preservativo. Portanto, doenças sexualmente transmissíveis são uma preocupação também nessa faixa etária.
A vacina da hepatite B entra como um ponto importante nesse cenário.
Está indicada para os idosos, e é administrada em 3 doses: a segunda um mês após da primeira e a terceira seis meses após a primeira (esquema 0-1-6 meses).
Existem outras vacinas que não são recomendadas de forma rotineira para todos os idosos, mas que, em algumas situações, podem ser utilizadas após adequada avaliação e indicação médica.
Como exemplos, temos: a vacina contra Hepatite A, Tríplice Viral (que protege contra caxumba, sarampo e rubéola), da febre amarela e a meningocócica conjugada.
Faremos um adendo para falar sobre a vacina do Sarampo (Tríplice Viral), pois devido ao surto recente, tivemos muitos questionamentos.
A maioria dos idosos, muito provavelmente, é imune ao sarampo, rubéola e caxumba, pois a doença era muito prevalente e em geral esses indivíduos já entraram em contato com o vírus.
A vacina não é recomendada de rotina para idosos, mas pode ser indicada a critério médico: surtos, viagens a lugares endêmicos, entre outros. Após exposição ao vírus do sarampo: uma dose até 72 horas após a exposição. É considerado protegido o indivíduo que tenha recebido duas doses da vacina após 1 ano de idade, com intervalo mínimo de um mês entre elas. 10 Lembrando que a vacina é de vírus vivo e, portanto, está contraindicada para indivíduos com imunidade baixa.
Consulte seu geriatra e saiba quais as vacinas são recomendadas para você, em que momento elas devem ser tomadas e se necessitam de reforço!
Espero que vocês tenham gostado do artigo! Em caso de dúvidas ou sugestões de temas, deixe seu comentário nas redes sociais ou envie email para: dralorenandrade@gmail.com
Referências:
- 1.Belongia EA. Beyond Antigenic Match: Moving Toward Greater Understanding of Influenza Vaccine Effectiveness. J Infect Dis 2017; 216:1477.
- 2.http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/abril/10/Informe-Cp-Influenza-FINAL.pdf
- 3.Voordouw AC, Sturkenboom MC, Dieleman JP, et al. Annual revaccination against influenza and mortality risk in community-dwelling elderly persons. JAMA 2004; 292:2089.
- 4.http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/332-vacinagripe
- 5.GBD 2016 Lower Respiratory Infections Collaborators. Estimates of the global, regional, and national morbidity, mortality, and aetiologies of lower respiratory infections in 195 countries, 1990-2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet Infect Dis 2018; 18:1191.
- 6.Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Use of 13-valent pneumococcal conjugate vaccine and 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine for adults with immunocompromising conditions: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2012; 61:816.
- 7.Hammitt LL, Bulkow LR, Singleton RJ, et al. Repeat revaccination with 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine among adults aged 55-74 years living in Alaska: no evidence of hyporesponsiveness. Vaccine 2011; 29:2287.
- 8.Kimberlin DW, Whitley RJ. Varicella-zoster vaccine for the prevention of herpes zoster. N Engl J Med 2007; 356:1338.
- 9.US Food and Drug Administration. Shingrix package insert. https://www.fda.gov/downloads/BiologicsBloodVaccines/Vaccines/ApprovedProducts/UCM581605.pdf (Accessed on October 27, 2017).
- 10.file:///C:/Users/Loren/Desktop/guia-geriatria-sbim-sbgg-3a-ed-2016-2017-160525-web.pdf