Médico geriatra

Novembro Azul

Novembro é um mês dedicado à conscientização dos homens para o cuidado com sua saúde!

E, nesse sentido, muito se fala sobre o câncer de próstata! 

Mas, outras questões não podem ser colocadas em segundo plano. Mais importante que a pesquisa de câncer, são as medidas para promoção de saúde.

Manter uma alimentação saudável, praticar atividade física, dormir bem, manter atividades de lazer e engajamento social são medidas que promovem uma vida saudável e ajudam a prevenir diversas doenças.

Mas hoje vamos falar um pouco mais sobre o câncer de próstata!

A próstata é uma glândula masculina que envolve parte da uretra (o canal por onde passa a urina). Ela é composta por células, e o câncer se desenvolve quando estas células crescem desreguladamente.

No Brasil, é o segundo câncer mais comum nos homens e acomete principalmente os idosos.

As estimativas apontam 68.220 novos casos em 2018. Esses valores correspondem a um risco estimado de 66,12 casos novos a cada 100 mil homens, com mais de 14 mil óbitos.¹

Em todo o mundo, estima-se que haja 1.300.000 novos casos de câncer de próstata anualmente, tornando-o o segundo câncer mais comumente diagnosticado em homens². Nos Estados Unidos, é a terceira principal causa de câncer, com aproximadamente 175.000 novos diagnósticos anualmenteᵌ. Para um homem americano, existe um risco de 12% na vida de ser diagnosticado com câncer de próstata.4

Os fatores que aumentam a chance de desenvolvê-lo são: 

  1. Idade avançada (o pico de incidência ocorre entre 65 e 74 anos);
  2. Raça negra;
  3. Fatores genéticos (mutações nos genes BRCA1 oU BRCA2);
  4. Dieta; 
  • Dieta rica em gordura animal
  • Dieta pobre em vegetais
  • Consumo de café mostrou benefício na redução de câncer letal em um estudo (7)
  1. História familiar (parente de primeiro grau: pai e irmão);
  2. Obesidade.

Quais os principais sintomas?

No início da doença, o paciente geralmente não sente nada!

Com a sua progressão, alterações urinárias podem surgir, como: dificuldade para urinar, jato urinário fraco, sensação de urina presa, urinar várias vezes ao dia, sangramento pela urina.

“ Aqui vale a pena chamar atenção de vocês para um dado importante: Esses sintomas urinários que falei acima são mais comuns em doenças benignas da próstata, como prostatites, infecções urinárias, hiperplasia benigna da próstata! Portanto, se você está apresentando algum desses sintomas, não se desespere e procure seu médico para uma avaliação!” 

E como é feita a  pesquisa do câncer de próstata?

O rastreio do câncer de próstata é alvo de muita polêmica e é um tópico bastante contraditório. 

“Aqui, farei um adendo para explicar um conceito importante! Rastrear um câncer significa pesquisar o câncer em pacientes sem sintomas! Portanto, quando o paciente já apresenta sintomas sugestivos da doença, não se fala mais em rastreio e, então, as recomendações são diferentes!”

Por que essa polêmica? Porque pesquisar o câncer de próstata pode trazer benefícios, mas também alguns riscos. 

Alguns estudos populacionais realizados com o objetivo de avaliar o impacto que o rastreio do câncer de próstata através do PSA, mostrou que houve uma redução modesta da mortalidade com a detecção precoce do câncer.

Primeiramente, o PSA (exame para rastreio do qual falaremos mais adiante) pode vir alterado em situações que não sejam câncer: É o que chamamos de teste falso positivo! Uma vez que o exame veio alterado, o paciente pode acabar se submetendo à biópsia, procedimento invasivo e passível de complicações (em média um risco de 2%). Além da ansiedade e estresse psicológico que a situação pode gerar no indivíduo!

Além disso, o câncer de próstata, em boa parte das vezes, evolui de forma muito lenta e pouco agressiva, portanto, alguns pacientes que são tratados desse câncer morreriam de uma outra causa que não o câncer e, uma vez tratados, viverão com as sequelas do tratamento (como incontinência urinária e impotência sexual). 

Por outro lado, o rastreio do câncer de próstata tem seus benefícios. Ele possibilita a detecção precoce do câncer, em fases nas quais o tratamento é mais eficaz e pode salvar vidas.

Para que vocês tenham uma ideia melhor do problema, citarei as estatísticas: No momento do diagnóstico, cerca de 78% dos pacientes têm um câncer localizado; 12% apresentam comprometimento de linfonodo regional (as famosas ínguas que servem para defesa do nosso organismo e que ficam inchadinhas quando temos alguma inflamação ou infecção) e 6% apresentam metástase (quando o câncer já se espalhou para outras partes do corpo (6).

Nesse cenário, as diversas sociedades fornecem diferentes recomendações no tangente ao rastreio do câncer de próstata!

Citarei uma das referências que mais gosto e é a que sigo na minha prática de consultório: a recomendação da US Preventive Services Task Force (USPSTF) de 2018. (5) Eles sugerem que o rastreio (através da dosagem do PSA) pode ser feito para homens entre 55 e 69 anos após discutidos os riscos e benefícios com seu médico. Eles também se posicionaram contra o rastreio em pacientes com mais de 70 anos! 

Ao meu ver, o ponto mais importante é: A decisão compartilhada e individualizada! É fundamental durante a consulta que o médico individualize a indicação do rastreio baseado no risco do paciente desenvolver o câncer ao longo da vida, considerando-se os seus valores e suas prioridades. Também nesse contexto, é necessário expor ao paciente os riscos e benefícios do rastreio do câncer, para que ele esteja ciente de todas as possibilidades e possa compartilhar com o médico essa decisão! 

Existem calculadoras disponíveis que o médico pode utilizar para a estimativa do risco de paciente desenvolver câncer de próstata, e elas podem ser usadas no processo de decisão compartilhada. Baseado nesse risco, pode-se também decidir a idade de início do rastreio, visto que pacientes com risco mais alto podem iniciar a pesquisa um pouco mais precocemente.

Citarei dois cenários para exemplificar a importância da decisão compartilhada e da necessidade de individualização para cada perfil de paciente.

  1. Cenário 1: Seu José, 85 anos, portador de Alzheimer, hipertenso, já infartado. Tem necessidade de auxílio para tomar banho, para ir ao banheiro e para comer.

Comentário: O seu João é um paciente que não se beneficiaria do rastreio de câncer de próstata por alguns motivos: por ter uma expectativa de vida limitada não terá tempo para se beneficiar da detecção precoce do câncer, além do que, é provável que o paciente não tivesse condições de se submeter a um tratamento curativo.

  1. Cenário 2: Seu Paulo, 55 anos, saudável, seu pai faleceu devido câncer de próstata aos 60 anos e seu irmão mais velho tive um câncer de próstata diagnosticado aos 55 anos.

Comentário: O seu Paulo é jovem e apresenta fatores de risco para câncer de próstata. O rastreio e o consequente diagnóstico precoce da neoplasia e a possibilidade de um tratamento curativo são realidade nesse contexto.

Mas então, vamos partir para as possibilidades de rastreio do câncer de próstata!

  1. O rastreio pode ser feitos através do exame de sangue chamado PSA, o antígeno prostático específico, que é produzido pela próstata. Em geral, será realizado anualmente. PSA está elevado quando ≥ 4 ng/ml, entretanto algumas condições podem elevar discretamente, portanto quando está entre 4 e 7 ng/ml, geralmente repetimos em algumas semanas para confirmar;
  2. Em algumas situações, é realizado o toque retal. Este é um exame ainda menos indicado, pois apresenta uma baixa acurácia para identificação precoce de câncer. Entretanto, se for optado por se realizar, uma vez detectada alguma nodulação, enduração ou assimetria, paciente deve ser submetido a uma investigação mais aprofundada.

O diagnóstico do câncer é confirmado através da biópsia, que consiste num procedimento invasivo, durante o qual um pedaço do órgão é retirado e, posteriormente avaliado para pesquisa de células cancerígenas.

No processo de investigação diagnóstica, exames de imagem com ultrassonografia e ressonância podem ser realizados também.

É importante frisar que outras doenças benignas da próstata (como prostatites, hiperplasia benigna da próstata) podem causar os mesmos sintomas do câncer e a elevação do PSA no sangue. O PSA pode se elevar em situações banais inclusive, como após andar de bicicleta ou após uma ejaculação.

Portanto, consulte seu médico para ter uma orientação adequada!

E, uma vez diagnosticado o câncer de próstata, quais as opções de tratamento?

Antes de indicar o tratamento, esse paciente precisa ser estratificado, para se saber o grau de avanço da doença, se se trata de um câncer localizado ou mais disseminado.

Aí então, o tratamento será indicado de acordo com o grau da patologia. As opções são: cirurgia para retirada da próstata (prostatectomia), radioterapia, medicação para suprir o hormônio masculino. Essas opções podem ser utilizadas conjuntamente de acordo com o estágio da doença.

Espero que tenham gostado do artigo! Podem enviar dúvidas ou sugestões nas redes ou envie email para: dralorenandrade@gmail.com

Referências:

  1. http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/cancer-de-prostata
  2. Bray F, Ferlay J, Soerjomataram I, et al. Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin 2018; 68:394.
  3. Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin 2019; 69:7.
  4. https://seer.cancer.gov/csr/1975_2016/browse_csr.php?sectionSEL=23&pageSEL=sect_23_table.10 (Accessed on June 07, 2019).
  5. US Preventive Services Task Force. Screening for Prostate CancerUS Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA. 2018;319(18):1901–1913. doi:10.1001/jama.2018.3710
  6. https://seer.cancer.gov/statfacts/html/prost.html (Accessed on June 12, 2018).
  7. Wilson KM, Kasperzyk JL, Rider JR, et al. Coffee consumption and prostate cancer risk and progression in the Health Professionals Follow-up Study. J Natl Cancer Inst 2011; 103:876.
Loren Andrade

Loren Andrade

Residência em Geriatria no Hospital das Clínicas da USP. Especialista em Geriatria no InCor - USP

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