Médico geriatra

Estou ficando esquecido, será que é Alzheimer?

Rotineiramente, pacientes idosos e também adultos de meia idade chegam no consultório com queixas de esquecimento e preocupados que isso possa ser ou possa se tornar Doença de Alzheimer.

Mais comumente, as queixas são do tipo: Não consigo lembrar o nome das pessoas, esqueço onde guardei os objetos, tenho que anotar tudo ou esqueço os compromissos, minha memória não é mais a mesma!

Se você se identifica com essas queixas ou tem algum familiar que já relatou essas questões para você, leia o artigo e entenda melhor o que uma queixa de memória pode representar!

Primeiro, vamos entender as diferenças entre memória e cognição:

  • A cognição consiste no processo mental de adquirir conhecimento; e ela é composta por diversas “partes” ou “domínios”, como a memória, a atenção, as habilidades motoras etc;
  • A memória é apenas uma parte da cognição e consiste na nossa capacidade de lembrar do que aprendemos.

Entendidas essas diferenças, vamos então explicar o que é demência.

1. Demência

A demência é uma síndrome que ocorre quando há uma alteração importante da cognição, a ponto de causar uma perda da independência do indivíduo.

Há vários tipos de demências, o Alzheimer é das mais comuns, e nela ocorre alteração principalmente da memória, mais outras partes da “cognição” também podem ser alteradas.

Como é feito o diagnóstico de demência?

O médico aplica “testes” que avaliam de forma objetiva a cognição do paciente. Se esse teste vem alterado e o paciente tem perda de autonomia por conta dessa alteração, suspeitamos que possa haver um quadro de demência. Nesse caso, solicitamos alguns exames para investigar melhor o quadro.

2. Toda queixa de memória significa demência?

Definitivamente NÃO!!! E também não necessariamente significa que o paciente vai ter Alzheimer!!

Inclusive, pacientes com Alzheimer, em geral não têm insight (ou percepção) da sua perda de memória. Em boa parte das vezes é o familiar que traz essa queixa.

A doença de Alzheimer não é a única causa de alteração de memória e várias outras condições podem estar associadas, como envelhecimento normal, traços de personalidade, distúrbios psiquiátricos (como ansiedade e depressão) e uso de drogas psiquiátricas.

Portanto, é necessária uma avaliação médica detalhada para entender a causa da queixa de memória.

Como nós falamos, para o paciente receber o diagnóstico de demência, ele precisa ter não apenas alteração da cognição, mas também perda da sua autonomia. 

E quando o indivíduo tem apenas alteração de memória (ou cognição), mas é independente; o que isso que dizer??

Vamos entender melhor essa condição!!

3. Declínio Cognitivo Subjetivo e Comprometimento Cognitivo Leve

Já começo pedindo desculpas pelos termos complicados, mas não há outros disponíveis!! Mas vou tentar explicar de uma maneira simples o que  eles significam!!

Lembra daqueles testes de memória que falei no começo? Então, quando o paciente queixa de esquecimento, nós realizamos esses testes (existem vários disponíveis) para avaliar de uma forma objetiva a memória e a cognição como um todo. O resultado do teste é dado em pontuação, como se fosse uma prova mesmo, e existem pontos de corte que são considerados normais.

Se o paciente com queixa de esquecimento vai bem nesses testes, faz pontuação acima da média, dizemos então que ele tem declínio cognitivo subjetivo. Ou seja, ele tem queixa de esquecimento, mas o teste é normal!

Por outro lado, se o paciente com a mesma queixa vai mal nos testes, faz pontuação abaixo da média, dizemos então que ele tem comprometimento cognitivo leve, Ou seja, ele queixa de esquecimento e o teste é alterado! Mas isso não é demência!! Por que?? Por que ele não tem perda da autonomia, a queixa de memória não está impactando sua vida!

Hoje vamos falar da primeira situação: Declínio Cognitivo Subjetivo!

4. O que pode ser a causa dessa queixa de esquecimento?

São diversas as causas de queixas de esquecimento! E isso também varia de acordo com a idade.

Alguns exemplos: doenças psiquiátricas, depressão e ansiedade, traços de personalidade mórbidos, estresse, sobrecarga de atividades e informações são observados com bastante frequência.

Inclusive, quando nos deparamos com paciente com queixa de esquecimento, é imprescindível avaliar transtorno de humor, como depressão e ansiedade. Estes quadros são muito comuns e podem levar a alterações de atenção e concentração e, consequentemente, de memória! E, quando adequadamente tratados, observamos melhora do esquecimento.

5. Precisa fazer algum exame?

Não!  Se não há outra doença por trás, como as doenças psiquiátricas, só precisa manter seguimento.

Esses pacientes devem manter acompanhamento médico para realização periódica dos testes para avaliar memória, para que o profissional possa verificar a evolução.

Ainda não dispomos de exames bem consolidados para identificar os indivíduos que vão ter Alzheimer.

Testes genéticos e marcadores no líquor ainda são objetos de pesquisa científica e não são realizados rotineiramente no nosso dia a dia.

5. Esses indivíduos podem desenvolver Alzheimer?

Sim! Mas preste bem atenção na explicação! 

Pacientes que não têm queixa de memória também podem um dia desenvolver demência. 

Mas lembre: queixa de memória é muito frequente e na maioria das vezes não estará associada ao risco de demência!!

Só através de uma avaliação médica detalhada nós conseguimos identificar aqueles pacientes com queixa de esquecimento e que têm maior chance de desenvolver demência!

E o que esses pacientes devem fazer?? 

  • Levar uma vida saudável;
  • Controlar adequadamente suas doenças de base, como hipertensão e diabetes;
  • Realizar atividade física;
  • Promover engajamento social e realizar atividades prazeirosas;
  • Estimular sua memória da forma que mais lhe dá satisfação! 

Dement. neuropsychol. vol.10 no.3 São Paulo July/Sept. 2016 

Loren Andrade

Loren Andrade

Residência em Geriatria no Hospital das Clínicas da USP. Especialista em Geriatria no InCor - USP

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