Médico geriatra

Ansiedade e Depressão após COVID-19

Seria a COVID-19 também ma doença neuropsiquiátrica?

No início da pandemia pela COVID-19, acreditávamos que esta se tratava de uma doença primariamente pulmonar. Conforme a pandemia foi se alastrando e o conhecimento científico a respeito da doença crescendo, passamos a entender que se tratava de uma patologia muito mais complexa, que levava a um estado inflamatório generalizado, com uma série de complicações em diversos órgão do corpo.

Nesse sentido, temos observado o número cada vez maior de pacientes com sintomas neurológicos e psiquiátricos; o que nos faz questionar se esta também se trata de uma doença neuropsiquiátrica.

Com os avanços no conhecimento sobre a fisiopatologia da doença, hoje sabemos que o vírus SARS-Cov 2 é capaz de causar danos ao sistema neurológico de forma direta, mas também indireta, seja pelo estado inflamatório generalizado, pela resposta imunológica ou até mesmo por efeito colateral de algumas medicações utilizadas, como os corticoides.

Mas, sem dúvida, os sintomas neuropsiquiátricos não ocorrem apenas naqueles que são acometidos pelo vírus, mas também por pessoas que não adoeceram, mas que foram afetadas psicologicamente e socialmente pelas consequências da pandemia. Seja pela perda de um ente querido, queda salarial, prejuízos financeiros etc.

Dessa forma, podemos ver que a origem do problema vai além do mecanismo fisiopatológico da doença.

No artigo de hoje, vamos falar sobre os sintomas neuropsiquiátricos da COVID-19.

 

         FASE AGUDA

Durante a fase aguda, ou seja, a fase durante a qual o vírus está ativo no corpo, os sintomas neuropsiquiátricos são bastante comuns, em especial nos pacientes com quadros moderados a graves que precisaram internar. Alguns estudos relatam taxas de 30% de pacientes com sintomas.

Uma das manifestações mais comuns é o “delirium”, também chamado de “estado confusional agudo”. É mais comum em idosos, o paciente pode apresentar com confusão mental, desorientação, agitação, alteração da atenção e da concentração, agressividade, ou sonolência excessiva.

Outros sintomas comumente vistos na fase aguda:

– insônia

– ansiedade

– irritabilidade

– ansiedade

– tristeza

– alteração da atenção, memória e concentração

– psicoses com alucinações

– alteração do comportamento

Durante a fase aguda, nos quadros mais graves, também pode ocorrer doença cerebrovascular como AVC (derrame) devido ao estado inflamatório e à hipercoagulação que leva à trombose.

Além disso, o efeito psicológico decorrente do isolamento hospitalar, medo da morte e do sofrimento gerado pela doença impactam enormemente na ocorrência dos sintomas neuropsiquiátricos.

 

Leia também sobre a síndrome pós-covid: https://lorenandradegeriatra.com.br/sintomas-prolongados-de-covid-19/ ‎

 

         FASE PÓS-COVID

       É fato que aqueles pacientes que se recuperam da COVID-19 também apresentam uma risco maior de apresentar transtornos psiquiátricos persistentes após a alta.

E isso é verdade não só para aqueles pacientes que já apresentavam doenças psiquiátricas antes da COVID-19, mas também para aqueles sem doença prévia.

Uma das patologias mais comumente vista é o transtorno do estresse pós-traumático.

Outras condições psiquiátricas comuns: Transtorno de Ansiedade Generalizada, Síndrome do Pânico, Depressão.

Além das doenças propriamente ditas, alguns sintomas isolados também têm sido observados em pacientes recuperados da COVID-19, tais como:

– alteração da atenção e concentração

– labilidade do humor

– irritabilidade

– insônia

– perda de memória

Outro ponto para o qual chamo a atenção de vocês: o aumento nas taxas de suicídio. Isso já foi observado também em outras pandemias por outros coronavírus e precisamos estar atentos para aqueles pacientes com quadros de alteração de humor que apresentam maior risco.

 

Saiba mais sobre a necessidade de fazer sorologia após a vacina da COVID-19:   https://lorenandradegeriatra.com.br/apos-tomar-a-vac…-fazer-sorologia/ ‎

 

         A PERDA DE MEMÓRIA

Chamo atenção para uma queixa relativamente comum e que, de certa forma, me preocupa, que é a perda de memória.

Até o momento, não sabemos ao certo qual será o impacto dessa queixa a longo prazo: a alteração de memória vai melhorar? Vai se manter estável? Esses pacientes têm um risco maior de desenvolver demência? Se sim, qual tipo de demência?

Fato importante é: Precisamos acompanhar esses pacientes periodicamente, avaliando a memória através de testes cognitivos. Ademais, é necessária a avaliação conjunta do humor, pois alterações de humor causam alteração da atenção e da concentração e, como consequência, podem alterar a memória.

Dessa forma, é muito importante que pacientes que se apresentam com sintomas neuropsiquiátricos após recuperação da COVID-19 procurem avaliação médica e psicológica.

Uma dúvida comum que os pacientes têm e aproveito para responder é a respeito de qual especialista procurar nesse caso: o Geriatra, o Psiquiatra, o Neurologista e o Médico de Família estão habilitados para realizar o seguimento desses pacientes.

Lembrando que os transtornos de humor, como depressão e ansiedade têm tratamentos eficazes e devem ser tratados em tempo hábil para evitar suas complicações!

 

Referências:

  1. Rogers JP, Chesney E, Oliver D, Pollack TA, McGuire P, Fusar-Poli P, et al. Psychiatric and neuropsychiatric presentations associated with severe coronavirus infection: a systematic review and meta-analysis with comparison to the COVID-19 pandemic. The Lancet Psychiatry, May 18th, 2020. https://doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30203-0
  2. Neurocrit Care https://doi.org/10.1007/s12028-020-00978-4
  3. https://www.uptodate.com/contents/covid-19-psychiatric-illness?search=COVID%20E%20PSIQUIATRIA&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1#H3487563666
Loren Andrade

Loren Andrade

Residência em Geriatria no Hospital das Clínicas da USP. Especialista em Geriatria no InCor - USP

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