Médico geriatra

Como parar de fumar?

O tabagismo é uma das principais causas de doenças no mundo. Além disso, a exposição ao fumo passivo também aumenta o risco de doenças e de morte. 

Riscos e benefícios de parar de fumar

Fumar está associado a um risco aumentado de diversas doenças, como doenças cardíacas (em especial o infarto), osteoporose, úlcera no estômago, impotência sexual e complicações na gravidez. 

Mesmo fumar uma pequena quantidade, como um cigarro por dia, está associado a maiores riscos para a saúde.

Parar de fumar traz muitos benefícios imediatos para a saúde em todas as idades. Quanto mais cedo você parar, maiores serão os benefícios. Pessoas que param de fumar antes dos 50 anos reduzem pela metade o risco de morrer nos próximos 15 anos, em comparação com aqueles que continuam a fumar.

  • Doença cardiovascular: O tabagismo dobra o risco de uma pessoa desenvolver doença coronariana, uma condição causada pela deposição de placas de gordura nas artérias do coração e que pode levar ao infarto. Parar de fumar pode reduzir rapidamente esse risco. Um ano depois de parar de fumar, o risco de morte por doença coronariana é reduzido pela metade e continua diminuindo com o tempo. Fumar também aumenta o risco de derrame (AVC) e doença arterial periférica (uma condição em que os vasos sanguíneos que transportam sangue para as pernas são bloqueados ou entupidos, causando dor nas pernas).
  • Doença pulmonar – fumar aumenta o risco de doenças pulmonares, como doença pulmonar obstrutiva crônica, também conhecida como enfisema ou bronquite.
  • Câncer – O tabagismo é responsável por quase 90% dos casos de câncer de pulmão. Parar de fumar reduz o risco de câncer de pulmão cinco anos após parar, embora ex-fumantes ainda tenham um risco maior do que pessoas que nunca fumaram.

Parar de fumar também pode reduzir o risco de outros tipos de câncer, como cânceres de cabeça e pescoço, esôfago, pâncreas e bexiga.

As etapas para parar de fumar?

A aquisição de novos hábitos, de uma maneira geral, passam por um processo gradual de mudanças. 

No processo de cessar o tabagismo também é assim! Um modelo, denominado “Estágios de mudança”, descreve um processo pelo qual ocorre a mudança de comportamento. Ele identifica cinco estágios através dos quais os fumantes podem progredir à medida que passam do tabagismo para a abstinência:

  1. Pré-contemplação (ainda não está pronto para parar)
  2. Contemplação (considerando uma tentativa de parar)
  3. Preparação (planejando ativamente uma tentativa de parar)
  4. Ação (ativamente envolvido em uma tentativa de parar)
  5. Manutenção (cessação do tabagismo alcançada)

Em todos os processos é fundamental o apoio do médico, dos profissionais de saúde, da família e dos amigos. Se o indivíduo ainda não está na fase de contemplação, devemos estimulá-lo a pensar em parar de fumar.

Se ele já está desejando parar, partimos para as opções de tratamento.É importante definir uma data de encerramento – O processo de encerramento geralmente começa com a definição de uma “data para parar de fumar” nas duas a quatro semanas seguintes. 

Aconselhamos os pacientes a parar abruptamente na data de desligamento, mas a redução gradual antes da data de desligamento é uma alternativa aceitável.

Barreiras no processo de cessação do tabagismo

A dependência da nicotina é a principal barreira para que os fumantes deixem de fumar.

Quando o tabagismo é interrompido, podem surgir sintomas de abstinência da nicotina. Esses sintomas atingem o pico nos primeiros três dias após a cessação do tabagismo e diminuem nas três a quatro semanas seguintes. 

Os sintomas incluem aumento do apetite e ganho de peso, mudanças de humor, insônia, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração e inquietação.

É importante que vocês saibam que esses sintomas melhoram com o tempo e são transitórios, e que podem ser aliviados por qualquer um dos medicamentos de primeira linha para parar de fumar.

Além disso, alguns eventos que te fazem lembrar do cigarro podem também constituir barreiras para esse processo. 

Os fumantes ficam condicionados a associar os efeitos prazerosos do uso do tabaco com os gatilhos ambientais, como o café da manhã, uma bebida alcoólica ou o final de uma refeição. Esses gatilhos contribuem para a dificuldade dos fumantes em se manterem abstinentes da nicotina.

Ao se preparar para parar de fumar, é importante identificar situações ou atividades que aumentem o risco de fumar ou recaída. Depois de identificar essas situações, você pode precisar desenvolver novas habilidades de enfrentamento.

Faça mudanças no estilo de vida para reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida, como iniciar um programa de exercícios ou aprender técnicas de relaxamento. Exercícios vigorosos podem aumentar a capacidade de parar de fumar e evitar recaídas, além de ajudar a minimizar ou evitar o ganho de peso.

Minimize o tempo com fumantes e em locais onde é permitido fumar.

Reconheça quais as situações e desejos que frequentemente levam à recaída. Mantenha substitutos orais (como goma de mascar sem açúcar, cenoura, sementes de girassol, etc.) à mão para quando os desejos se desenvolverem.

Tente evitar pensamentos como “fumar um cigarro não faz mal”; um cigarro geralmente leva a muitos mais.

É importante manter um seguimento médico para avaliação periódica de efeitos colaterais das medicações e recidiva. O acompanhamento deve se dar periodicamente nos primeiros 3 meses e continuar anualmente por vários anos, porque os ex-fumantes bem-sucedidos permanecem em alto risco de recaída por vários anos após a cessação do tabagismo.

E se você teve uma recaída, não se preocupe, isso acontece em vários casos e não quer dizer que você não vai conseguir. Boa parte das pessoas que conseguem parar de fumar passaram por recaídas. 

O importante é não desistir! Procure auxílio médico. Há muitos tratamentos bons disponíveis. 

Confira detalhes sobre os tratamentos no artigo da próxima semana.

Referências:

1. https://www.uptodate.com/contents/overview-of-smoking-cessation-management-in-adults?search=cessação%20do%20tabagismo&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1

2. DiClemente CC, Prochaska JO, Fairhurst SK, et al. The process of smoking cessation: an analysis of precontemplation, contemplation, and preparation stages of change. J Consult Clin Psychol 1991; 59:295.

3. https://www.uptodate.com/contents/quitting-smoking-beyond-the-basics?search=cessação%20do%20tabagismo&topicRef=16634&source=see_link

Loren Andrade

Loren Andrade

Residência em Geriatria no Hospital das Clínicas da USP. Especialista em Geriatria no InCor - USP

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